O papel do Transporte dentro da logística – Desafios e oportunidades -Elaine Alves
ARTIGO: O papel do Transporte dentro da logística – Desafios e oportunidades
Texto escrito por Antônio Mizael, diretor administrativo da Rodoativa Transportes, empresa de Contagem (MG)
Por Antônio Mizael*
No Brasil, o termo logística vem sendo usado de forma indiscriminada desde o inicio da década de noventa do século passado. Neste mesmo período houve uma disseminação do uso da informática nas empresas e na sequência veio o boom das ferramentas de gerenciamento via internet, ECR, EDI, Rastreamento via GPS, entre outras siglas.
A sensação é que as coisas aconteceriam como se fosse num passe de mágica, ou num click de mouse. O uso da logística, enquanto ferramenta mercantil, é relativamente novo. Porém a logística como estratégia, é milenar, tem seu uso mais espetacular durante as conquistas do Império Romano.
Os romanos planejavam cuidadosamente cada etapa de suas rotas colonizadoras, e seguiam um cronograma de forma que fosse otimizado todos o recursos necessários para a eficácia do objetivo. Suprimentos, vias de acesso, informação, detalhamento da operação, enfim tudo que hoje chamamos de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, ou simplesmente SCM (Supply Chain Management).
Na logística moderna, as empresas buscam o conceito de logística integrada, onde todos os setores, produto, preço, promoção, custo de transporte, custo de estoque, entre outros deixem de ser vistos de forma isolada e passem a fazer parte da estratégia de marketing.
Neste artigo discutiremos:
1- A importância do transporte dentro da logística;
2- A Matriz de transporte no Brasil;
3 – Os gargalos da multimodalidade e, por fim, os desafios e oportunidades da atividade logística no Brasil.
O transporte é uma das principais funções logísticas, além de demandar uma grande parcela dos recursos, cerca de 60% de todas as despesas, o que em alguns casos pode significar duas ou mais vezes o lucro de uma companhia. Exerce também papel fundamental no desempenho da logística enquanto serviço ao cliente, pois disponibiliza os produtos onde existe demanda potencial, dentro de prazos adequados as necessidades do comprador.
Como já citado, o avanço das tecnologias permite que o pedido seja disparado para as fábricas no exato instante em que o consumidor passa pela caixa registradora de um supermercado. Porém, o deslocamento físico da mercadoria (ainda) depende de uma infraestrutura viária que mesmo de última geração jamais vai acompanhar a velocidade dos bites. Daí podemos concluir que o transporte seja o calcanhar de Aquiles da logística.
A matriz de transporte no Brasil é demasiadamente concentrada no modal rodoviário. De tudo que é transportado, cerca de 60% são por rodovia, o ferroviário 25%, o hidroviário 15% e o restante está entre o aéreo e o duto viário. Estes números mostram a nossa grande dependência do TRC. Em países desenvolvidos o rodoviário não chega a 35%, dividindo com o ferroviário a maior parcela.
Vale lembrar que o modal rodoviário só é viável nas curtas e médias distâncias, porém ele vem fazendo também o papel das ferrovias, que são as longas distâncias. O modal hidroviário vem crescendo de forma orgânica dentro do seu nicho que é o escoamento agrícola. O aéreo, por ser um modal de alto custo, transporta apenas mercadorias de maior valor agregado, enquanto o duto viário tem bastante limitação quanto ao produto a ser transportado, apenas líquidos.
O panorama ideal de uma cadeia de suprimentos bem desenvolvida seria o uso otimizado dos diversos modais de transporte. Em nosso país temos grandes dificuldades para explorar esta opção, devido a diversos gargalos. Temos uma extensa e abrangente malha rodoviária, todavia muito ultrapassada devido a décadas de baixa manutenção, falta e, ou precária sinalização horizontal e vertical, grande parte em pista única e ainda muitos trechos sem cobertura asfáltica.
As ferrovias são mal distribuídas, concentradas nas regiões sudeste e sul, e geridas de forma isolada pelas concessionárias. Outros fatores impactantes são a obsolescência e precariedade das vias férreas, elevado número de pontos críticos das linhas, principalmente na transposição de centros urbanos, algo que aumenta o tempo de viagem das composições.
Entraves de conexão entre os modais são a dificuldade de encontrar pontos com equipamentos adequados ao transbordo do trem para o caminhão e vice-versa. Nas hidrovias devido à falta de planejamento não foram feitas eclusas nas represas de hidrelétricas, também constitui barreiras as embarcações.
Tudo isto somado gera grande impacto negativo no crescimento do país e aumento do custo Brasil. Entretanto o nosso mercado de logística ainda é novo, bastante fragmentado e em processo de consolidação. A grande dificuldade é o excessivo número de empresas transportadoras, que deveriam entrar em processo de fusão, reduzindo o número de players e ganhando musculatura para realizar melhores negócios.
Oportunidades surgem num momento de expansão acelerada nos negócios de logística, investimentos pesados tanto da área privada quanto do setor público. Segundo dados do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), as empresas brasileiras gastaram R$ 334 bilhões com logística – ou 11,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
Atualmente contamos com 165 operadores logísticos frente a apenas 35 em 1997 e faturamento de R$ 39 bilhões em 2008, enquanto em 1997 a receita não passava de R$ 1 bilhão. A tendência é o transporte ganhar visibilidade, porque a logística só agrega valor quando diferencia uma empresa de seu competidor ao fazer o produto chegar primeiro.
*Antônio Mizael é diretor administrativo da Rodoativa Transportes, empresa com sede em Contagem (MG).