Logística só será sustentável com equilíbrio entre modais - Gabriela Marinho
GANHOS
Ideal seria usar estradas em trajetos mais curtos, de até 300 quilômetros

Cerca de 60% do transporte de cargas no Brasil é feito por rodovias. Além de vias mal conservadas, quem trafega ou vive às margens das estradas convive com caminhões com excesso de carga, acidentes que custam vidas e lotam hospitais, maior gasto com frete e manutenção de frota e mais emissão de poluentes, problemas que poderiam ser amenizados com a adoção de um equilíbrio maior entre modais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a rodovia representa apenas 32% da matriz de transporte, enquanto a ferrovia fica com 43% e a hidrovia, com 25%, um modelo que aproveita melhor o potencial de cada modal. "A sustentabilidade está no uso racional de cada modal", diz o professor de MBA em Logística Empresarial do Business School da Fundação Getúlio Vargas (IBS/FGV), Alex Oliva.
Ele explica que as rodovias são meios mais ágeis e com maior capilaridade e devem ser usadas para transportes curtos, de até 300 quilômetros, e para levar as cargas até ferrovias ou hidrovias, que poluem menos.
O coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende, afirma que além dos ganhos econômicos, o equilíbrio entre modais pode ter bons impactos ambientais. "A ferrovia e, principalmente, a hidrovia, emitem muito menos poluentes", diz. Ele completa que o controle de emissões pode ser feito também na rodovia, com manutenção de frota, educação para o trânsito e uso do veículo correto e com volume de carga compatível para cada tipo de terreno. "Esses procedimentos reduzem emissões e custos operacionais", diz.
A Usiminas já adota tanto a transferência de cargas de rodovia para ferrovia, quanto procedimentos de direção segura e responsável nas estradas. A unidade de Ipatinga, no Vale do Aço, movimenta cerca de 15 milhões de toneladas por ano entre aço e insumos, sendo 75% via ferrovia da Vale. O percentual vai aumentar até o fim do ano, quando chegam os 150 vagões que a empresa comprou para este fim. Isso significa que a siderúrgica deixa de colocar na rodovia 1.162 carretas por dia e vai tirar mais 90 até dezembro.
O diretor de logística, Paulo Fraga, explica que sobrarão 290 carretas diariamente nas rodovias (hoje são 380). Entre os cuidados para evitar acidentes estão a checagem de vários itens de segurança e a reamarração da carga a cada 250 quilômetros trafegados.
Análise
Dimensão estratégica da logística
Renaud Barbosa da Silva e Jamil Moysés Filho
Pilotar uma cadeia logística é buscar atingir as necessidades dos clientes com qualidade máxima e custos mínimos. Essa é a receita para manter e aumentar o nível de competitividade. O sucesso depende do nível de integração de ações específicas e de seus ajustes no decorrer do tempo.
Por exemplo, a orientação do fluxo de produção ("puxado" ou "empurrado") influencia a política de produção (estoque ou contrapedido), que, por sua vez, vai subsidiar a centralização ou descentralização de estoques. Outro fator é a escolha do(s) modal(is) mais adequados, uma vez que o custo dos transportes é o outro "vilão" a ser atacado para a redução dos custos. Essas e outras decisões logísticas determinarão o sistema de informações que vai suportar o funcionamento de toda a cadeia.
O posicionamento logístico bem-sucedido como estratégia competitiva reflete em ganhos para toda a cadeia de suprimentos, ou seja, clientes e fornecedores vão melhorar sua competitividade, contribuindo, em última análise, para o desenvolvimento nacional.
Professores do MBA Logística Empresarial do IBS /FGV